ATENDIMENTO DO PREMATURO NA REDE BÁSICA
Introdução
Este
capítulo apresenta inicialmente um fluxograma para atendimento do prematuro de
modo a ser uma referência rápida para avaliação de risco, com ênfase na
avaliação dos dados obtidos a partir da caderneta de saúde da criança e da
gestante. Informações adicionais como resumo de alta da internação na Unidade
de Terapia Intensiva neonatal (UTIN) também são utilizados, porém como nem
sempre estão presentes, optou-se por dar prioridade a instrumentos utilizados
mais comumente na assistência à criança.
A
partir da avaliação de risco, são propostas estratégias para o atendimento na
rede básica, com atenção a determinados aspectos da assistência: crescimento, alimentação,
anemia, vacinas e detecção de anormalidades no exame do desenvolvimento neuropsicomotor,
inclusive com apresentação de sinais que demandam avaliação especializada.
Assim,
o objetivo é facilitar o entendimento da lógica do atendimento de bebês
prematuros, para profissionais de saúde com uma clientela de pacientes pediátricos
diversificada.
O atendimento do prematuro deve seguir alguns passos. Para simplificar vamos primeiro estabelecer um ordem relativa de prioridades na consulta:
1- Avaliar risco
do bebê através da análise da caderneta de saúde da criança e do cartão da
gestante e história neonatal;
2- Classificar o
risco com levantamento da história familiar e sócio-econômica;
3- Detectar
potencialidades e prováveis problemas na família em relação ao cuidado físico e
afetivo do bebê;
4- Observar se
foram feitos Otoemissão Acústica (OEA), Teste do Pezinho, Reflexo Vermelho;
5- Detectar se
existe história neonatal de Retinopatia da Prematuridade (ROP), Displasia
Broncopulmonar(DBP), Enterocolite Necrosante, Hemorragia Intracraniana(HIC) ou
Leucomalácia Periventricular ou Derivação Ventrículoperitoneal (DVP), assim
como de malformações congênitas ou síndromes, ou alterações no exame
sensóriomotor. A presença destas intercorrências demanda seguimento
especializado;
6- Classificar
risco e programar se é necessário seguimento especializado;
7- Para os
lactentes com idade gestacional(IG) menor ou igual a 32 semanas e/ou peso de
nascimento(PN) igual ou menor que 1500g e/ou história de internação prolongada,
checar se foram feitos Ultrassom Transfontanela(USTF), e avaliação de Fundo de
Olho(FO) para ROP ou outra condição ocular evidenciada através do exame
clínico,assim como rastreamento para Doença Metabólica Óssea(DMO);
8- Avaliar
necessidade de repetir ou solicitar novos exames;
9- Avaliar
intercorrências clínicas;
10- Avaliar
alimentação com estímulo ao aleitamento materno;
11- Verificar se
número de eliminações e consistência das fezes são adequados;
12- Checar peso
(sem roupa), perímetro cefálico e comprimento, e colocar na curva;
13- Checar
calendário vacinal e tabela de desenvolvimento presentes na Caderneta de Saúde
da Criança;
14- Detectar no
exame físico presença de sinais, mais comuns no lactente prematuro, que
demandam seguimento como: RGE, sibilâncias,hérnia inguinal, tremores, alteração
de formato craniano,convergência do olhar,alterações de tônus muscular,postura
e movimentação, entre outros;
15- Orientar
sobre postura e intervenção em casa com materiais simples;
16- Avaliar
necessidade de consulta com especialistas;
17- Prescrever
sulfato ferroso e vitaminas A e D, conforme indicações
18- Programar retorno
Fluxograma de atendimento:
1-Avaliação de Risco
Observação:
Se IG≤ 32 semanas
e/ou PN< 1500g e/ou história de internação prolongada: checar se foram feitos
Ultrassom Transfontanela(USTF), Fundo de Olho(FO) para ROP ou outra condição
ocular evidenciada através do exame clínico,e rastreamento para DMO
|
Assegurar que o teste do pezinho, a OEA e o reflexo vermelho sejam feitos no seguimento clínico, caso não tenham sido feitos na Maternidade de origem
OBS:Se não é possível informação direta sobre idade gestacional nas informações existentes
Buscar
informação sobre DUM ou sobre Ultrassom feito no primeiro trimestre da gravidez
a)O recém-nascido é Pequeno para Idade Gestacional(PIG)?
A
OMS define PIG como aqueles recém-nascidos que se encontram com peso abaixo de
2 desvios padrões para média ou abaixo do percentil 10 em curvas intrauterinas
locais Esta última definição também é utilizada pelas áreas de Obtetrícia e Neonatologia,
e seu uso justifica-se pela alta prevalência de mortalidade e morbidades
neonatais neste grupo. Estes apresentam risco de hipertensão,
obesidade e diabetes tipo 2, associado com aumento do Índice de Massa Córporea
(IMC) na idade adulta2-9. Tal fato demanda atenção especial aos
aspectos nutricionais do seguimento destas crianças, com orientação para uma
alimentação saudável e observação atenta para a curva de crescimento. Por outro
lado, também apresentam maior risco para déficits cognitivos, acadêmicos e na
atenção, assim como baixa estatura.
As Sociedades
de Endocrinologia Pediátrica, definem o recém-nascido PIG como apresentando
peso e/ou comprimento abaixo de 2desvios-padrões da média para a idade
gestacional (que corresponde aproximadamente ao percentil 3) necessitando de
uma atenção adicional10-12 no seguimento clínico, principalmente no
que concerne à baixa estatura. Recomenda-se a utilização do gráfico de Fenton13
para verificar se o PN encontra-se abaixo do Percentil 3, presente no anexo 1
deste documento. O gráfico de Fenton13 também deve ser utilizado para seguir as medidas antropométricas até aproximadamente as 40 semanas. Quando o bebê é menor que 30 semanas pode ser utilizado por mais 8 semanas. O Gráfico de Fenton apresenta as vantagens de estar dividido em curvas para meninos e meninas, além de ter continuidade com as curvas da OMS, presentes no nosso cartão da criança. Além disso apresenta curvas desde as 22 semanas de gestação, e o peso apresenta incrementos de 100g permitindo uma aferição mais precisa da relação peso/idade gestacional.
Normalmente, o catch-up, é feito dentro dos 2 primeiros anos, especialmente nos primeiros 6 meses. No entanto, o prematuro PIG pode fazer mais tarde. Mesmo assim, para vigilância clínica, é recomendável que se a criança permanece abaixo de dois desvios padrões da média para o comprimento até os 2/3 anos, seja referenciada para um endocrinologista pediátrico baseado na evidência existente na literatura sobre a melhor resposta ao GH quando feito o mais precocemente possível10-12.
Normalmente, o catch-up, é feito dentro dos 2 primeiros anos, especialmente nos primeiros 6 meses. No entanto, o prematuro PIG pode fazer mais tarde. Mesmo assim, para vigilância clínica, é recomendável que se a criança permanece abaixo de dois desvios padrões da média para o comprimento até os 2/3 anos, seja referenciada para um endocrinologista pediátrico baseado na evidência existente na literatura sobre a melhor resposta ao GH quando feito o mais precocemente possível10-12.
Estimar risco através dos indicadores de risco da SOPERJ modificados pela rede NAIRR (abaixo) e em conjunto com indicadores sociais. Estes são compreendidos por: mais de 2 pessoas por dormitório, crianças em creche ou em escola, baixa escolaridade materna, situação de violência, uso de drogas, mãe sozinha ou suporte social precário, baixa renda familiar, entre outros.
Quadro 2: INDICADORES DE RISCO
|
|
Abaixo de Dois Desvios – Padrão (Percentil 3). Para classificação utilizamos a curva de Fenton e para acompanhamento Intergrowth-21 a partir de 33 semanas (página 90 da caderneta da criança). |
|
|
Manifestações Clínicas ou Laboratoriais de
Asfixia: acidose metabólica nas primeiras 2 horas de vida, oligúria,
taquipnéia, alteração da freqüência cardíaca, entre outros.
|
|
Alterações do
tonus muscular
Alterações do sensório (irritabilidade/sonolência)
|
Exame Neonatal de Dubowitz anormal
Alterações da fontanela
Alterações do tamanho ou formato craniano
Meningite neonatal
|
|
|
|
|
|
|
|
Neurolues, citomegalovírus, herpes, rubéola, toxoplasmose, zika
|
|
|
|
Malformação Congênita e/ou Síndrome Genética
|
Internação ≥
21 dias
|
Gemelaridade, se um dos gêmeos preencher critérios
Grande para Idade Gestacional (GIG)
|
Agendamento das Consultas
OBS: Lembrar que:
a) O ponto de corte para seleção da idade gestacional considerada como indicação obrigatória para programa de seguimento do RN de Risco deve também estar vinculado aos critérios de seleção para rastreamento de ROP na Unidade Neonatal,segundo a Sociedade de Pediatria local. Por exemplo, no Rio de Janeiro, o ponto de corte é 34 semanas e essa foi a idade gestacional escolhida para seguimento nos NAIRR.
b)Se na história clínica puder ser identificada
presença de Retinopatia da Prematuridade (ROP), Displasia Broncopulmonar (DBP),
Hemorragia Intracraniana (HIC) e Enterocolite Necrosante (ENC), esta criança
merece avaliação especializada, por
ser de Alto Risco. Quanto maior a associação destas morbidades, maior o risco
para alterações no desenvolvimento neuropsicomotor.
c)Os RN
prematuros tardios(idade gestacional entre 34 e 36 semanas) apresentam morbidade significativamente maior quando
comparados aos RN a termo, e por isso devem ter garantido um acompanhamento que
atenda às suas necessidades.14,15
avaliação na consulta
a) Agendamento das Consultas
Considerar
intervalos de 7 ou 15 dias após a alta
para avaliar ganho de peso e estabilidade clínica. Após este período:
1-2 anos de
idade corrigida: mensal
2-4 anos:
trimestral
A partir de 4
anos: semestral
Na programação da freqüência das consultas, considerar:
ü A avaliação de
risco no que concerne aos fatores socioeconômicos e biológicos;
ü A oferta de
serviços de saúde, inclusive emergências;
ü Se existem
outros profissionais que dão assistência regular ao lactente;
ü O alto risco
social como famílias com pouco suporte social, abuso de substâncias, história
de abandono, abuso ou negligência infantil, principalmente no caso de programas
que fazem visita domiciliar;
ü Que as idas à
emergência diminuem com a regularidade nas consultas.
b) Avaliação do Crescimento e Desenvolvimento
Consultar e anotar na caderneta da criança medidas antropométricas, inclusive nos gráficos, em todas as consultas. O perímetro cefálico deve ser medido em todas as consultas. Deve-se corrigir o peso, o comprimento e perímetro cefálico até 36 meses de idade corrigida.
Acompanhar o IMC, que juntamente com a curva de crescimento oferece dados importantes para garantir que o crescimento é apropriado
Utilizar a tabela de desenvolvimento da caderneta da criança, para acompanhamento do desenvolvimento segundo a idade corrigida (corrigir até os 36 meses de vida, após o qual deve ser utilizada a idade cronológica).
Cálculo da idade corrigida
A Idade Corrigida corresponde à idade
do bebê levando em conta a idade gestacional. Assim calcula-se
1)
Quantas semanas que o recém-nascido/lactente nasceu antes
do termo, através da fórmula:
40 semanas - idade gestacional (semanas)
2)
Subtrair o resultado da fórmula anterior da idade
cronológica
Exemplo:
Idade gestacional: 34 semanas
Idade cronológica: 6 meses ou 24 semanas
40 -34 = 6 semanas
24 semanas – 6 semanas = 18 semanas
ou 4 meses e 2 semanas
Idade corrigida:4 meses e 2 semanas
sinais
de alerta na avaliação do crescimento
- Ganho ponderal insuficiente (observado através do cálculo de gramas por dia ou curva em “plateau” ou em queda)
- Perda ponderal maior que 10% após a alta
- Curva de crescimento do perímetro cefálico que se desvie além de 2 desvios-padrões, curva em “plateau” ou crescimento abaixo/acima do esperado abaixo:
1º Trimestre: 2cm /mês (6 cm/trimestre)
2º Trimestre: 1cm /mês (3
cm/trimestre)
3º e 4º Trimestres: 0,5cm/mês (1,5cm/trimestre),
totalizando 12 cm/ano.
Valores
aproximados da taxa de crescimento dos prematuros
|
||
“normal”
|
“catch-up”
|
|
Peso
|
10-30g/dia
|
40-45g/dia
|
Comprimento
|
2,0-3,0cm/mês
|
4,0cm/mês
|
Perímetro
cefálico
|
2,0-3,0cm/mês
|
4,5cm/mês
|
Fonte: Xavier PC, Anchieta LM, Ornelas SL. Crescimento do Recém-nascido
Pré-termo. Temas de Pediatria, 2004; 77:pag 5.
OBS: O termo “catch-up” apresenta muitas definições
segundo diferentes autores. No entanto, vamos adotar a definição proposta por
outros autores16,17, de ascensão para um canal de crescimento acima
daquele do nascimento, também utilizada pelo Ministério da Saúde.
c)Alimentação
A alimentação
deve seguir as recomendações existentes pelo Ministério da Saúde. Assim o
aleitamento materno deve sempre ser incentivado, não somente pelos aspectos
nutricionais, mas afetivos e imunológicos, particularmente importantes no
recém-nascido prematuro. A curva de crescimento é importante ferramenta na
avaliação da boa evolução do peso, utilizando-se a curva da OMS com idade
corrigida presente na caderneta da criança, conforme já comentado.
Quando em aleitamento considere os seguintes
pontos para o melhor aproveitamento energético:
ü Observar se a
pega e a postura estão adequadas;
ü Avaliar
necessidade de utilização do leite posterior (mais calórico), através da
expressão e armazenamento da primeira saída de leite, colocando-se o lactente
para mamar ao seio materno (SM) após esta retirada; quando a criança cansar na
mamada, usar o leite anterior que foi armazenado;
ü Observar
freqüência do oferecimento do SM (se ganho de peso insuficiente e bebê dorme a
noite toda, considerar a possibilidade de oferecer o SM durante a noite,
acordando o bebê);
ü Duração do
tempo e descanso em cada mamada;
ü Existência de
sinais de dispnéia durante a amamentação (para isso é fundamental que durante o
atendimento seja observada a mamada), que podem sinalizar para doenças agudas
como infecções respiratórias ou problemas cardiorrespiratórios subjacentes.
A introdução
da alimentação complementar deve principalmente seguir o desenvolvimento
neuromotor, que é comentado mais adiante, além das recomendações gerais do
Ministério da Saúde. A introdução de frutas amassadas ou raspadas, assim como as refeições só devem ser introduzidas quando o lactente apresenta controle de
cabeça estável quando sentado, com retificação do segmento lombar inferior e
permanência na posição sentada, possibilitando a alimentação por colher. No
prematuro, como em qualquer lactente, não deve ser recomendada alimentação
batida em liquidificador. Esta prática quando percebida como necessária quer
pelo responsável quer pelo profissional de saúde, pode estar denunciando que o
lactente não está preparado para a introdução da colher e/ou que seu
desenvolvimento neuromotor necessita de avaliação por equipe de reabilitação.
Exame neuromotor
O exame
neuromotor completo inclui a avaliação dos marcos do desenvolvimento,
postura/atitude, equilíbrio estático e dinâmico, tônus muscular, força
muscular, pesquisa dos reflexos primitivos e dos reflexos profundos.
O
desenvolvimento motor do prematuro, apesar de suas peculiaridades, segue a
mesma seqüência do desenvolvimento normal, devendo ser avaliado de acordo com a
idade corrigida. No entanto, como o exame motor do lactente prematuro pode
apresentar variações nos primeiros meses de vida, torna-se importante um exame
minucioso que utilize como ferramentas:
ü Acompanhamento
dos marcos do desenvolvimento: deve ser feito com cautela, seguindo-se os
parâmetros esperados, porém respeitando-se as variações da normalidade. Como
todo o exame do prematuro, deve-se considerar a idade corrigida e interpretar
os dados em associação com o restante do exame neuromotor.
ü Avaliação da
movimentação espontânea quanto a qualidade, amplitude, variabilidade e simetria
ü Observação de
postura e atitude nas diferentes posições conforme a idade: prono, supino,
lateral, sentado, na posição de gatas (em quatro apoios) e de pé, e nas
transições, ou seja, rolar, sentar-se, engatinhar e levantar-se.
ü Exame do
tônus e procura de fixações/retrações: o lactente prematuro nasce com tônus
menor em relação ao recém-nascido a termo. Dependendo da idade gestacional, o
prematuro não atinge a fase de completa flexão intraútero. Existe um predomínio
do tônus extensor em detrimento do tônus flexor, o que se verifica na tendência
à hiper extensão do pescoço, na diminuição
da movimentação antigravitária e axial. Na tentativa de realizar movimento
contra a gravidade, o lactente faz hiperextensão do pescoço com elevação dos
ombros e das escápulas. Esta “fixação” da cintura escapular leva ao
comprometimento da função dos membros superiores, limitando a amplitude, a
variabilidade e a qualidade dos movimentos: as mãos ficam mais fechadas, os
braços se movimentam muito próximos ao corpo e há dificuldade em erguer a
cabeça do plano a 30o, na posição prona.
ü Avaliação do
grau de limitação do movimento e sua repercussão na aquisição de marcos
motores, possibilitando direcionar as orientações para um melhor posicionamento
do lactente em casa além da decisão de tratamento por equipe de reabilitação.
ü Procura dos
reflexos primitivos: presentes ao nascimento, dependendo da idade gestacional,
desaparecem no primeiro ano de vida, particularmente no primeiro semestre,
quando dão lugar às reações posturais (reações de proteção ou endireitamento).
ü Pesquisa dos
reflexos profundos com o objetivo de complementar os demais achados do exame
neuromotor. No lactente os reflexos são habitualmente vivos, com aumento da
intensidade, amplitude ou difusão. Desta forma a hiperreflexia deve ser
valorizada acima dos dois anos de idade ou na presença de assimetria e/ou
outros achados de lesão piramidal. A hiporreflexia deve ser sempre valorizada e
direciona para uma lesão de unidade motora.
ü Avaliar o
desenvolvimento como um conjunto incluindo funções como visão, audição e
oromotricidade, verificando as repercussões da limitação de uma sobre a outra,
para a melhor avaliação do desenvolvimento e possível indicação do tratamento.
ü As alterações
neuromotoras que os lactentes prematuros apresentam nem sempre são claramente
anormais; mas freqüentemente representam ajustes à força da gravidade, por
exemplo. No entanto, quando identificados merecem intervenção, com
acompanhamento e orientação para postura e posicionamento e se necessário
tratamento com equipe de reabilitação multidisciplinar.
De uma
maneira esquemática apresentamos a seguir alguns quadros para facilitar a
detecção de certos sinais de alerta, e que em conjunto com a tabela da
caderneta ajudam a identificar aqueles que demandam avaliação especializada,
por equipe de reabilitação e consulta com neurologista infantil. No anexo 2
apresentamos um quadro destes sinais por áreas de desenvolvimento, mais
abrangente, dispostos de maneira didática.
Não sustenta a cabeça
após 4 meses ou cansa-se facilmente nesta posição após os 6 meses
|
Não senta sem apoio após
9 meses ou cansa-se facilmente nesta posição após 12 meses
|
Não apresenta marcha
independente após 18 meses
|
Não solta um cubo em um
recipiente após 10 meses
|
Não possui pinça
polegar-indicador após 12 meses
|
Não faz torre de 3 cubos
após 21 meses
|
Presença de hipotonia
(cotovelo ultrapassa a linha média na manobra do cachecol, ângulos poplíteos
/ adutores aumentados para a idade e/ou postura de batráquio)
|
Presença de hipertonia
(mãos fechadas, ângulos poplíteos / adutores para idade, apoio digitígrado
e/ou marcha em tesoura)
|
Postura dos membros
superiores em candelabro (rotação externa dos braços e flexão dos antebraços)
secundária a encurtamento dos trapézios
|
Manutenção da cabeça para
trás do eixo corporal após os 6 meses,
por encurtamento ou hipertonia dos trapézios
|
Presença de cifose ou
escoliose a partir dos 2 anos
|
Não consegue manter -se
na posição sentada, caindo para frente após os 9 meses ou para trás aos 6 meses
|
Presença de reação
intensa ao apoio no chão (pés em garra e/ou extensão do tronco)
|
Marcha em tesoura
|
Assimetria de movimentação espontânea e/ou tônus
assimétrico)
|
Aumento da curvatura
dorsal ou opistótono (hiperextensão do tronco)
|
Curvatura ventral mínima
ou ilimitada (por hiper ou hipotonia, respectivamente)
|
Expressão facial
estereotipada, pouco expressiva ou assimétrica
|
Aumento da sialorréia
acima dos 2 anos
|
Movimentos involuntários
de boca ou língua
|
Mãos constantemente fechadas
|
Sucção ineficaz
|
Reflexo de Moro, preensão
palmar e/ou marcha automática ausentes até 6 meses ou presentes após 6 meses
|
Presença do reflexo
tônico-cervical após 6 meses
|
Ausência das reações de
proteção (capacidade estática e/ou paraquedas) após 9 meses.
|
Reflexos profundos
exaltados após 2 anos ou exaltados com clônus, ausentes ou assimétricos, em
qualquer idade
|
Fonte:
Adaptado de Julie Gosselin e Claudine Amiel-Tison.Avaliação Neurológica do
nascimento aos 6 anos. 2ª. Edição. Editora Artmed.
Quadro 2: Sinais de alerta – CDC
“Conheça os sinais e atue precocemente”
2 meses
|
Não traz as mãos à boca
Não sustenta a cabeça em decúbito ventral
|
4 meses
|
Não sustenta a cabeça de forma constante
Não traz objetos à boca
Não faz força para baixo com as pernas, quando os pés são colocados sobre uma superfície rígida
|
6 meses
|
Não tenta pegar objetos que estão ao alcance
Tem dificuldade em levar objetos à boca
Não rola
Parece rígido, com músculos tensos
Parece muito mole, como um boneco de pano
|
9 meses
|
Não suporta o peso nas pernas quando apoiado
de pé
Não senta sem apoio
Não transfere objetos de uma mão à outra
|
12 meses
|
Não engatinha
Não fica de pé com apoio
|
15 meses
|
Não anda
|
2 anos
|
Não anda de forma constante
|
3 anos
|
Cai muito
Tem dificuldade com escadas
|
4 anos
|
Tem dificuldade para rabiscar
Não pula
|
5 anos
|
Não desenha figuras
Não escova os dentes, lava e seca as mãos ou
se veste, sem auxílio
|
Fonte:
adaptado do site http://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/milestones/index.html
Referências Bibliográficas
1-Zegers-Hochschild
F, Adamson GD, Mouzon J, Ishihara O, Mansour R, Nygren K, et al. International
Committee for Monitoring Reproductive Assisted Technology (ICMART) and World
Health Organization revised glossary of ART terminology, 2009.Fertility and Sterility 2009,
92:1520-1524.
2-Lauren L.,
Jarvelin M.R., Elliott P., Sovio U., Spellman A.,
McCarthy M., et al. Relationship between birthweight and blood lipid
concentrations in later life: evidence from the existing literature Int J Epidemiol 2003 ; 32 :
862-876
3-Kajantie E., Barker D.J., Osmond C.,
Forsen T., Eriksson J.G. Growth before 2 years of age and serum
lipids 60 years later: the Helsinki Birth Cohort study Int J Epidemiol 2008 ; 37 :
280-289
4-
Crowther NJ, Cameron N, Trusler J, Toman M, et al. Influence of Catch-up Growth
on Glucose Tolerance and -Cell Function in 7-Year-Old Children: Results From
the Birth to Twenty Study. Pediatrics
2008;121:e1715–e1722.
5-Adair
LS, Martorell R, Stein AD, Hallal PC, et al. Size at birth, weight gain in
infancy and childhood, and adult blood pressure in 5 low- and middle-income-country
cohorts: when does weight gain matter? Am
J Clin Nutr 2009;89:1383–1392.
6-
Luo Z, Xiao L, Nuyt AM. Mechanisms of developmental programming of the
metabolic syndrome and related disorders. World
J Diabetes 2010 July 15; 1: 89-98
7-Guellec
I, Lapilllonne A, Renolleau S, Charlaluk ML, Roze JC e cols. Neurologic
Outcomes at School Age in Very Preterm Infants Born With Severe or Mild Growth
Restriction. Pediatrics 2011;
127:e883-e891.
8-Heinonen
K, Raikkonen K, Pesonen AK, Andersson S, Kajantie E, Eriksson J et al.
Behavioural symptom of attention deficit;hyperactibvity disorder in preterm and
term children born small and appropriate for gestational age: a longitudinal
study. BMC Pediatrics 2010;
10:91-99.
9-Morsing E, Asard M, Ley D, Stjernqvist K, Marsál K. Pediatrics 2011; 127:e874-e882.
10-Lee
PA, Chernausek SD, Hokken-Koelega ACS, et al. International small for
gestational age advisory board consensus development conference statement:
management of short children born small for gestational age, April 24–October
1, 2001. Pediatrics 2003;111:1253–61.
11-Clayton
PE, Cianfarani S, Czernichow P, Johannsson G, Rapaport R, Rogol A., and A.
Rogol CONSENSUS STATEMENT: Management of
the Child Born Small for Gestational Age through to Adulthood: A Consensus
Statement of the International Societies of Pediatric Endocrinology and the
Growth Hormone Research Society. The Journal of Clinical Endocrinology &
Metabolism 2007, 92:804–810
12-Boguszewsk
MCS, Mericq V, Bergada I, Damiani D, e cols. Latin American Consensus: Children
Born Small for Gestational Age. BMC Pediatrics 2011; 11: 66-76.
13-
Fenton TR. A new growth chart for
preterm babies: Babson and Benda's chart updated with recent data and a new
format. BMC Pediatrics 2003,3. Disponível em http://www.biomedcentral.com/1471-2431/3/13. Acessado em
20 de Agosto de 2011.
14-Bird
TM, Bronstein JM, Hall RW,Lowery CL et al. Late Preterm Infants:Birth Outcomes
and Health in the First Year of Life. Pediatrics 2010, 216:e311-319.
15-Van
Baar AL, Vermaas J, Knots E, de Kleine MJKm Soons P. Functioning at School Age
of Moderately Preterm Children Born at 32 to 36 Weeks' Gestational Age. Pediatrics
2009;124;251-257
16-Hack
M, Breslau N, Weissman B e cols. Effect
of very low birth weight and subnormal head size on cognitive abilities at
school age. New England Journal of Medicine 1991; 325: 231-237.
17-Victora
CG, Morris SS, Barros FC e cols. Short term benefits of cath-up growth for
small-for-gestacional age infants. International Journal of Epidemiology
2001; 30:1325-1330.
18-
Silveira RC, coord. Manual seguimento ambulatorial do prematuro de risco 1. ed.
Porto Alegre : Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de
Neonatologia, 2012.
19-
Mills RJ, Davies MW. Enteral iron supplementation in preterm and low birth
weight infants. Cochrane Database Syst Rev 2012 Mar 14, 3.
20-Agostoni
C, Buonocore G, Carnielli VP, De Curtis M, Darmaun D, Decsi T
et al. Enteral
Nutrient Supply for Preterm Infants: Commentary From the European Society for
Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition Committee on Nutrition. JPGN
2010;50: 85–91.
21-Lemyre
B, Sample M, Lacaze-Masmonteil M and
Canadian Paediatric Society , Fetus and Newborn Committee. Minimizing blood loss
and the need for transfusions in very premature infants. Paediatr Child Health
2015;20:451-56.
22-Baker
R, Greer FR and The Committee on Nutrition. Diagnosis and Prevention of Iron
Deficiency and Iron-Deficiency Anemia in Infants and Young Children (0-3 years
of age). Pediatrics 2010; 126: 5: 1-10.
Nenhum comentário:
Não é permitido fazer novos comentários.