quarta-feira, 8 de março de 2023

Atendimento do prematuro na rede básica

ATENDIMENTO DO PREMATURO NA REDE BÁSICA 

Introdução

Este capítulo apresenta inicialmente um fluxograma para atendimento do prematuro de modo a ser uma referência rápida para avaliação de risco, com ênfase na avaliação dos dados obtidos a partir da caderneta de saúde da criança e da gestante. Informações adicionais como resumo de alta da internação na Unidade de Terapia Intensiva neonatal (UTIN) também são utilizados, porém como nem sempre estão presentes, optou-se por dar prioridade a instrumentos utilizados mais comumente na assistência à criança.
A partir da avaliação de risco, são propostas estratégias para o atendimento na rede básica, com atenção a determinados aspectos da assistência: crescimento, alimentação, anemia, vacinas e detecção de anormalidades no exame do desenvolvimento neuropsicomotor, inclusive com apresentação de sinais que demandam avaliação especializada.
Assim, o objetivo é facilitar o entendimento da lógica do atendimento de bebês prematuros, para profissionais de saúde com uma clientela de pacientes pediátricos diversificada.

O atendimento do prematuro deve seguir alguns passos. Para simplificar vamos primeiro estabelecer um ordem relativa de prioridades na consulta:

1-      Avaliar risco do bebê através da análise da caderneta de saúde da criança e do cartão da gestante e história neonatal;
2-      Classificar o risco com levantamento da história familiar e sócio-econômica;
3-      Detectar potencialidades e prováveis problemas na família em relação ao cuidado físico e afetivo do bebê;
4-      Observar se foram feitos Otoemissão Acústica (OEA), Teste do Pezinho, Reflexo Vermelho;
5-      Detectar se existe história neonatal de Retinopatia da Prematuridade (ROP), Displasia Broncopulmonar(DBP), Enterocolite Necrosante, Hemorragia Intracraniana(HIC) ou Leucomalácia Periventricular ou Derivação Ventrículoperitoneal (DVP), assim como de malformações congênitas ou síndromes, ou alterações no exame sensóriomotor. A presença destas intercorrências demanda seguimento especializado;
6-      Classificar risco e programar se é necessário seguimento especializado;
7-      Para os lactentes com idade gestacional(IG) menor ou igual a 32 semanas e/ou peso de nascimento(PN) igual ou menor que 1500g e/ou história de internação prolongada, checar se foram feitos Ultrassom Transfontanela(USTF), e avaliação de Fundo de Olho(FO) para ROP ou outra condição ocular evidenciada através do exame clínico,assim como rastreamento para Doença Metabólica Óssea(DMO);
8-      Avaliar necessidade de repetir ou solicitar novos exames;
9-      Avaliar intercorrências clínicas;
10-  Avaliar alimentação com estímulo ao aleitamento materno;
11-  Verificar se número de eliminações e consistência das fezes são adequados;
12-  Checar peso (sem roupa), perímetro cefálico e comprimento, e colocar na curva;
13-  Checar calendário vacinal e tabela de desenvolvimento presentes na Caderneta de Saúde da Criança;
14-  Detectar no exame físico presença de sinais, mais comuns no lactente prematuro, que demandam seguimento como: RGE, sibilâncias,hérnia inguinal, tremores, alteração de formato craniano,convergência do olhar,alterações de tônus muscular,postura e movimentação, entre outros;
15-  Orientar sobre postura e intervenção em casa com materiais simples;
16-  Avaliar necessidade de consulta com especialistas;
17-  Prescrever sulfato ferroso e vitaminas A e D, conforme indicações
18-  Programar retorno

Fluxograma de atendimento:

1-Avaliação de Risco

  Observação:


Se IG 32 semanas e/ou PN< 1500g e/ou história de internação prolongada: checar se foram feitos Ultrassom Transfontanela(USTF), Fundo de Olho(FO) para ROP ou outra condição ocular evidenciada através do exame clínico,e rastreamento para DMO



 

 

Assegurar que o teste do pezinho, a OEA e o reflexo vermelho sejam feitos no seguimento clínico, caso não tenham sido feitos na Maternidade de origem

 

OBS:Se não é possível informação direta sobre idade gestacional nas informações existentes

            Buscar informação sobre DUM ou sobre Ultrassom feito no primeiro trimestre da gravidez

a)O recém-nascido é Pequeno para Idade Gestacional(PIG)?

            A OMS define PIG como aqueles recém-nascidos que se encontram com peso abaixo de 2 desvios padrões para média ou abaixo do percentil 10 em curvas intrauterinas locais Esta última definição também é utilizada pelas áreas de Obtetrícia e Neonatologia, e seu uso justifica-se pela alta prevalência de mortalidade e morbidades neonatais neste grupo. Estes apresentam risco de hipertensão, obesidade e diabetes tipo 2, associado com aumento do Índice de Massa Córporea (IMC) na idade adulta2-9. Tal fato demanda atenção especial aos aspectos nutricionais do seguimento destas crianças, com orientação para uma alimentação saudável e observação atenta para a curva de crescimento. Por outro lado, também apresentam maior risco para déficits cognitivos, acadêmicos e na atenção, assim como baixa estatura.
As Sociedades de Endocrinologia Pediátrica, definem o recém-nascido PIG como apresentando peso e/ou comprimento abaixo de 2desvios-padrões da média para a idade gestacional (que corresponde aproximadamente ao percentil 3) necessitando de uma atenção adicional10-12 no seguimento clínico, principalmente no que concerne à baixa estatura. Recomenda-se a utilização do gráfico de Fenton13  para verificar se o PN encontra-se abaixo do Percentil 3, presente no anexo 1 deste documento. O gráfico de Fenton13  também deve ser utilizado para seguir as medidas antropométricas até aproximadamente as 40 semanas. Quando o bebê é menor que 30 semanas pode ser utilizado por mais 8 semanas. O Gráfico de Fenton apresenta as vantagens de estar dividido em curvas para meninos e meninas, além de ter continuidade com as curvas da OMS, presentes no nosso cartão da criança. Além disso apresenta curvas desde as 22 semanas de gestação, e o peso apresenta incrementos de 100g permitindo uma aferição mais precisa da relação peso/idade gestacional.
 Normalmente, o catch-up, é feito dentro dos 2 primeiros anos, especialmente nos primeiros 6 meses. No entanto, o prematuro PIG pode fazer mais tarde. Mesmo assim, para vigilância clínica, é recomendável que se a criança permanece abaixo de dois desvios padrões da média para o comprimento até os 2/3 anos, seja referenciada para um endocrinologista pediátrico baseado na evidência existente na literatura sobre a melhor resposta ao GH quando feito o mais precocemente possível10-12



Estimar risco através dos indicadores de risco da SOPERJ modificados pela rede NAIRR (abaixo) e em conjunto com indicadores sociais. Estes são compreendidos por: mais de 2 pessoas por dormitório, crianças em creche ou em escola, baixa escolaridade materna, situação de violência, uso de drogas, mãe sozinha ou suporte social precário, baixa renda familiar, entre outros.



 

Quadro 2: INDICADORES DE RISCO                    


  1. PREMATURIDADE (IG ≤34sem  e/ou PN 1500g)
    • prematuros tardios (34 a 36 sem e 6 dias) com internação por pelo menos 05 dias e com outros critérios de risco. 
  1. PIG:
Abaixo de Dois Desvios – Padrão (Percentil 3). 
Para classificação utilizamos a curva de Fenton e para acompanhamento Intergrowth-21 a partir de 33 semanas  (página 90 da caderneta da criança).
  
  1. ASFIXIA PERINATAL:
  • Apgar 3 no 5° minuto e/ou
  Manifestações Clínicas ou Laboratoriais de Asfixia: acidose metabólica nas primeiras 2 horas de vida, oligúria, taquipnéia, alteração da freqüência cardíaca, entre outros.
  1. ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS:
Alterações do tonus muscular
Alterações do sensório (irritabilidade/sonolência)
Exame Neonatal de Dubowitz anormal
Alterações da fontanela
Alterações do tamanho ou formato craniano
Meningite neonatal
  1. CONVULSÃO/ EQUIVALENTE CONVULSIVO/ USO DE ANTI CONVULSIVANTES
  2. DISPLASIA BRONCOPULMONAR (DBP)
  1. HEMORRAGIA INTRACRANIANA (HIC) e/ou LEUCOMALÁCIA PERIVENTRICULAR (LPV) e/ou DERIVAÇÃO VENTRICULOPERITONEAL (DVP)
  2. RETINOPATIA DA PREMATURIDADE (ROP)
  3. DOENÇA  METABÓLICA ÓSSEA (DMO)
  1. DISTÚRBIOS METABÓLICOS:
  • policitemia/ hiperviscosidade sintomática:
  • hiperbilirrubinemia indireta  com níveis de exsanguineotransfusão
  1. HISTÓRIA NEONATAL DE PARADA CARDIORRESPIRATÓRIA
  1. INFECÇÃO CONGÊNITA:
Neurolues, citomegalovírus, herpes, rubéola, toxoplasmose, zika
  1. ENTEROCOLITE NECROSANTE (ECN)
  1. ERROS INATOS DO METABOLISMO
  1. OUTROS:
Malformação Congênita e/ou Síndrome Genética
Internação ≥ 21 dias
Gemelaridade, se um dos gêmeos preencher critérios
Grande para Idade Gestacional (GIG)


 





 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Agendamento das Consultas

  OBS: Lembrar que: 

a) O ponto de corte para seleção da idade gestacional considerada como indicação obrigatória para programa de seguimento do RN de Risco deve também estar vinculado aos critérios de seleção para rastreamento de ROP na Unidade Neonatal,segundo a Sociedade de Pediatria local. Por exemplo, no Rio de Janeiro, o ponto de corte é 34 semanas e essa foi a idade gestacional escolhida para seguimento nos NAIRR.

b)Se na história clínica puder ser identificada presença de Retinopatia da Prematuridade (ROP), Displasia Broncopulmonar (DBP), Hemorragia Intracraniana (HIC) e Enterocolite Necrosante (ENC), esta criança merece avaliação especializada, por ser de Alto Risco. Quanto maior a associação destas morbidades, maior o risco para alterações no desenvolvimento neuropsicomotor.

c)Os RN prematuros tardios(idade gestacional entre 34 e 36 semanas) apresentam  morbidade significativamente maior quando comparados aos RN a termo, e por isso devem ter garantido um acompanhamento que atenda às suas necessidades.14,15






avaliação na consulta


a)    Agendamento das Consultas


Considerar intervalos de 7 ou 15 dias após a alta para avaliar ganho de peso e estabilidade clínica. Após este período:
1-2 anos de idade corrigida: mensal
2-4 anos: trimestral
A partir de 4 anos: semestral



Na programação da freqüência das consultas, considerar:

ü  A avaliação de risco no que concerne aos fatores socioeconômicos e biológicos;
ü  A oferta de serviços de saúde, inclusive emergências;
ü  Se existem outros profissionais que dão assistência regular ao lactente;
ü  O alto risco social como famílias com pouco suporte social, abuso de substâncias, história de abandono, abuso ou negligência infantil, principalmente no caso de programas que fazem visita domiciliar;
ü  Que as idas à emergência diminuem com a regularidade nas consultas.






b)    Avaliação do Crescimento e Desenvolvimento

Consultar e anotar na caderneta da criança medidas antropométricas, inclusive nos gráficos, em todas as consultas. O perímetro cefálico deve ser medido em todas as consultas. Deve-se corrigir o peso, o comprimento e perímetro cefálico até 36 meses de idade corrigida.

Acompanhar o IMC, que juntamente com a curva de crescimento oferece dados importantes para garantir que o crescimento é apropriado

Utilizar a tabela de desenvolvimento da caderneta da criança, para acompanhamento do desenvolvimento segundo a idade corrigida (corrigir até os 36 meses de vida, após o qual deve ser utilizada a idade cronológica).

 





 

Cálculo da idade corrigida

A Idade Corrigida corresponde à idade do bebê levando em conta a idade gestacional. Assim calcula-se
1)      Quantas semanas que o recém-nascido/lactente nasceu antes do termo, através da fórmula:
40 semanas - idade gestacional (semanas)
2)      Subtrair o resultado da fórmula anterior da idade cronológica
Exemplo:
Idade gestacional: 34 semanas
Idade cronológica: 6 meses ou 24 semanas
40 -34 = 6 semanas
24 semanas – 6 semanas = 18 semanas ou 4 meses e 2 semanas
Idade corrigida:4 meses e 2 semanas

sinais de alerta na avaliação do crescimento

  • Ganho ponderal insuficiente (observado através do cálculo de gramas por dia ou curva em “plateau” ou em queda)
  • Perda ponderal maior que 10% após a alta
  • Curva de crescimento do perímetro cefálico que se desvie além de 2 desvios-padrões, curva em “plateau” ou crescimento abaixo/acima do esperado abaixo:
1º Trimestre: 2cm /mês (6 cm/trimestre)
2º Trimestre: 1cm /mês (3 cm/trimestre)
3º  e 4º Trimestres: 0,5cm/mês (1,5cm/trimestre), totalizando 12 cm/ano.

Valores aproximados da taxa de crescimento dos prematuros

“normal”
“catch-up”
Peso
10-30g/dia
40-45g/dia
Comprimento
2,0-3,0cm/mês
4,0cm/mês
Perímetro cefálico
2,0-3,0cm/mês
4,5cm/mês
Fonte: Xavier PC, Anchieta LM, Ornelas SL. Crescimento do Recém-nascido Pré-termo. Temas de Pediatria, 2004; 77:pag 5.
OBS: O termo “catch-up” apresenta muitas definições segundo diferentes autores. No entanto, vamos adotar a definição proposta por outros autores16,17, de ascensão para um canal de crescimento acima daquele do nascimento, também utilizada pelo Ministério da Saúde.

c)Alimentação

A alimentação deve seguir as recomendações existentes pelo Ministério da Saúde. Assim o aleitamento materno deve sempre ser incentivado, não somente pelos aspectos nutricionais, mas afetivos e imunológicos, particularmente importantes no recém-nascido prematuro. A curva de crescimento é importante ferramenta na avaliação da boa evolução do peso, utilizando-se a curva da OMS com idade corrigida presente na caderneta da criança, conforme já comentado.
 Quando em aleitamento considere os seguintes pontos para o melhor aproveitamento energético:
ü  Observar se a pega e a postura estão adequadas;
ü  Avaliar necessidade de utilização do leite posterior (mais calórico), através da expressão e armazenamento da primeira saída de leite, colocando-se o lactente para mamar ao seio materno (SM) após esta retirada; quando a criança cansar na mamada, usar o leite anterior que foi armazenado;
ü  Observar freqüência do oferecimento do SM (se ganho de peso insuficiente e bebê dorme a noite toda, considerar a possibilidade de oferecer o SM durante a noite, acordando o bebê);
ü  Duração do tempo e descanso em cada mamada;
ü  Existência de sinais de dispnéia durante a amamentação (para isso é fundamental que durante o atendimento seja observada a mamada), que podem sinalizar para doenças agudas como infecções respiratórias ou problemas cardiorrespiratórios subjacentes.
A introdução da alimentação complementar deve principalmente seguir o desenvolvimento neuromotor, que é comentado mais adiante, além das recomendações gerais do Ministério da Saúde. A introdução de frutas amassadas ou raspadas, assim como as refeições só devem ser introduzidas quando o lactente apresenta controle de cabeça estável quando sentado, com retificação do segmento lombar inferior e permanência na posição sentada, possibilitando a alimentação por colher. No prematuro, como em qualquer lactente, não deve ser recomendada alimentação batida em liquidificador. Esta prática quando percebida como necessária quer pelo responsável quer pelo profissional de saúde, pode estar denunciando que o lactente não está preparado para a introdução da colher e/ou que seu desenvolvimento neuromotor necessita de avaliação por equipe de reabilitação.

Exame neuromotor

O exame neuromotor completo inclui a avaliação dos marcos do desenvolvimento, postura/atitude, equilíbrio estático e dinâmico, tônus muscular, força muscular, pesquisa dos reflexos primitivos e dos reflexos profundos. 
O desenvolvimento motor do prematuro, apesar de suas peculiaridades, segue a mesma seqüência do desenvolvimento normal, devendo ser avaliado de acordo com a idade corrigida. No entanto, como o exame motor do lactente prematuro pode apresentar variações nos primeiros meses de vida, torna-se importante um exame minucioso que utilize como ferramentas:
ü  Acompanhamento dos marcos do desenvolvimento: deve ser feito com cautela, seguindo-se os parâmetros esperados, porém respeitando-se as variações da normalidade. Como todo o exame do prematuro, deve-se considerar a idade corrigida e interpretar os dados em associação com o restante do exame neuromotor.
ü  Avaliação da movimentação espontânea quanto a qualidade, amplitude, variabilidade e simetria
ü  Observação de postura e atitude nas diferentes posições conforme a idade: prono, supino, lateral, sentado, na posição de gatas (em quatro apoios) e de pé, e nas transições, ou seja, rolar, sentar-se, engatinhar e levantar-se.
ü  Exame do tônus e procura de fixações/retrações: o lactente prematuro nasce com tônus menor em relação ao recém-nascido a termo. Dependendo da idade gestacional, o prematuro não atinge a fase de completa flexão intraútero. Existe um predomínio do tônus extensor em detrimento do tônus flexor, o que se verifica na tendência à hiper  extensão do pescoço, na diminuição da movimentação antigravitária e axial. Na tentativa de realizar movimento contra a gravidade, o lactente faz hiperextensão do pescoço com elevação dos ombros e das escápulas. Esta “fixação” da cintura escapular leva ao comprometimento da função dos membros superiores, limitando a amplitude, a variabilidade e a qualidade dos movimentos: as mãos ficam mais fechadas, os braços se movimentam muito próximos ao corpo e há dificuldade em erguer a cabeça do plano a 30o, na posição prona.
ü  Avaliação do grau de limitação do movimento e sua repercussão na aquisição de marcos motores, possibilitando direcionar as orientações para um melhor posicionamento do lactente em casa além da decisão de tratamento por equipe de reabilitação.
ü  Procura dos reflexos primitivos: presentes ao nascimento, dependendo da idade gestacional, desaparecem no primeiro ano de vida, particularmente no primeiro semestre, quando dão lugar às reações posturais (reações de proteção ou endireitamento).
ü  Pesquisa dos reflexos profundos com o objetivo de complementar os demais achados do exame neuromotor. No lactente os reflexos são habitualmente vivos, com aumento da intensidade, amplitude ou difusão. Desta forma a hiperreflexia deve ser valorizada acima dos dois anos de idade ou na presença de assimetria e/ou outros achados de lesão piramidal. A hiporreflexia deve ser sempre valorizada e direciona para uma lesão de unidade motora.
ü  Avaliar o desenvolvimento como um conjunto incluindo funções como visão, audição e oromotricidade, verificando as repercussões da limitação de uma sobre a outra, para a melhor avaliação do desenvolvimento e possível indicação do tratamento.
ü  As alterações neuromotoras que os lactentes prematuros apresentam nem sempre são claramente anormais; mas freqüentemente representam ajustes à força da gravidade, por exemplo. No entanto, quando identificados merecem intervenção, com acompanhamento e orientação para postura e posicionamento e se necessário tratamento com equipe de reabilitação multidisciplinar.
De uma maneira esquemática apresentamos a seguir alguns quadros para facilitar a detecção de certos sinais de alerta, e que em conjunto com a tabela da caderneta ajudam a identificar aqueles que demandam avaliação especializada, por equipe de reabilitação e consulta com neurologista infantil. No anexo 2 apresentamos um quadro destes sinais por áreas de desenvolvimento, mais abrangente, dispostos de maneira didática.




Quadro 1 :Sinais de Alerta para disfunção neuromotora


Não sustenta a cabeça após 4 meses ou cansa-se facilmente nesta posição após os 6 meses 
Não senta sem apoio após 9 meses ou cansa-se facilmente nesta posição após 12 meses
Não apresenta marcha independente após 18 meses
Não solta um cubo em um recipiente após 10 meses
Não possui pinça polegar-indicador após 12 meses
Não faz torre de 3 cubos após 21 meses
Presença de hipotonia (cotovelo ultrapassa a linha média na manobra do cachecol, ângulos poplíteos / adutores aumentados para a idade e/ou postura de batráquio)
Presença de hipertonia (mãos fechadas, ângulos poplíteos / adutores para idade, apoio digitígrado e/ou marcha em tesoura)
Postura dos membros superiores em candelabro (rotação externa dos braços e flexão dos antebraços) secundária a encurtamento dos trapézios
Manutenção da cabeça para trás do eixo corporal  após os 6 meses, por encurtamento ou hipertonia dos trapézios
Presença de cifose ou escoliose a partir dos 2 anos
Não consegue manter -se na posição sentada, caindo para frente após os 9 meses ou para trás aos 6 meses
Presença de reação intensa ao apoio no chão (pés em garra e/ou extensão do tronco)
Marcha em tesoura
Assimetria  de movimentação espontânea e/ou tônus assimétrico)
Aumento da curvatura dorsal ou opistótono (hiperextensão do tronco)
Curvatura ventral mínima ou ilimitada (por hiper ou hipotonia, respectivamente)
Expressão facial estereotipada, pouco expressiva ou assimétrica
Aumento da sialorréia acima dos 2 anos
Movimentos involuntários de boca ou língua
Mãos constantemente fechadas
Sucção ineficaz
Reflexo de Moro, preensão palmar e/ou marcha automática ausentes até 6 meses ou presentes após 6 meses
Presença do reflexo tônico-cervical após 6 meses
Ausência das reações de proteção (capacidade estática e/ou paraquedas) após 9 meses.
Reflexos profundos exaltados após 2 anos ou exaltados com clônus, ausentes ou assimétricos, em qualquer idade


Fonte: Adaptado de Julie Gosselin e Claudine Amiel-Tison.Avaliação Neurológica do nascimento aos 6 anos. 2ª. Edição. Editora Artmed.



Quadro 2: Sinais de alerta – CDC
“Conheça os sinais e atue precocemente”
2 meses
Não traz as mãos à boca
Não sustenta a cabeça em decúbito ventral
4 meses
Não sustenta a cabeça de forma constante
Não traz objetos à boca
Não faz força para baixo com as pernas, quando os pés são colocados sobre uma superfície rígida
6 meses
Não tenta pegar objetos que estão ao alcance
Tem dificuldade em levar objetos à boca
Não rola
Parece rígido, com músculos tensos
Parece muito mole, como um boneco de pano
9 meses
Não suporta o peso nas pernas quando apoiado de pé
Não senta sem apoio
Não transfere objetos de uma mão à outra
12 meses
Não engatinha
Não fica de pé com apoio
15 meses
Não anda
2 anos
Não anda de forma constante
3 anos
Cai muito
Tem dificuldade com escadas
4 anos
Tem dificuldade para rabiscar
Não pula
5 anos
Não desenha figuras
Não escova os dentes, lava e seca as mãos ou se veste, sem auxílio
Fonte: adaptado do site http://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/milestones/index.html


Referências Bibliográficas

1-Zegers-Hochschild F, Adamson GD, Mouzon J, Ishihara O, Mansour R, Nygren K, et al. International Committee for Monitoring Reproductive Assisted Technology (ICMART) and World Health Organization revised glossary of ART terminology, 2009.Fertility and Sterility 2009, 92:1520-1524.
2-Lauren L., Jarvelin M.R., Elliott P., Sovio U., Spellman A., McCarthy M., et al. Relationship between birthweight and blood lipid concentrations in later life: evidence from the existing literature Int J Epidemiol 2003 ;  32 : 862-876

3-Kajantie E., Barker D.J., Osmond C., Forsen T., Eriksson J.G. Growth before 2 years of age and serum lipids 60 years later: the Helsinki Birth Cohort study Int J Epidemiol 2008 ;  37 : 280-289
4- Crowther NJ, Cameron N, Trusler J, Toman M, et al. Influence of Catch-up Growth on Glucose Tolerance and -Cell Function in 7-Year-Old Children: Results From the Birth to Twenty Study. Pediatrics 2008;121:e1715–e1722.
5-Adair LS, Martorell R, Stein AD, Hallal PC, et al. Size at birth, weight gain in infancy and childhood, and adult blood pressure in 5 low- and middle-income-country cohorts: when does weight gain matter? Am J Clin Nutr 2009;89:1383–1392.
6- Luo Z, Xiao L, Nuyt AM. Mechanisms of developmental programming of the metabolic syndrome and related disorders. World J Diabetes 2010 July 15; 1: 89-98
7-Guellec I, Lapilllonne A, Renolleau S, Charlaluk ML, Roze JC e cols. Neurologic Outcomes at School Age in Very Preterm Infants Born With Severe or Mild Growth Restriction. Pediatrics 2011; 127:e883-e891.
8-Heinonen K, Raikkonen K, Pesonen AK, Andersson S, Kajantie E, Eriksson J et al. Behavioural symptom of attention deficit;hyperactibvity disorder in preterm and term children born small and appropriate for gestational age: a longitudinal study. BMC Pediatrics 2010; 10:91-99.
9-Morsing E, Asard M, Ley D, Stjernqvist K, Marsál K. Pediatrics 2011; 127:e874-e882.
10-Lee PA, Chernausek SD, Hokken-Koelega ACS, et al. International small for gestational age advisory board consensus development conference statement: management of short children born small for gestational age, April 24–October 1, 2001. Pediatrics 2003;111:1253–61.
11-Clayton PE, Cianfarani S, Czernichow P, Johannsson G, Rapaport R, Rogol A., and A. Rogol  CONSENSUS STATEMENT: Management of the Child Born Small for Gestational Age through to Adulthood: A Consensus Statement of the International Societies of Pediatric Endocrinology and the Growth Hormone Research Society. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism 2007, 92:804–810
12-Boguszewsk MCS, Mericq V, Bergada I, Damiani D, e cols. Latin American Consensus: Children Born Small for Gestational Age. BMC Pediatrics 2011; 11: 66-76.
13- Fenton TR.  A new growth chart for preterm babies: Babson and Benda's chart updated with recent data and a new format. BMC Pediatrics 2003,3. Disponível em http://www.biomedcentral.com/1471-2431/3/13. Acessado em 20 de Agosto de 2011.
14-Bird TM, Bronstein JM, Hall RW,Lowery CL et al. Late Preterm Infants:Birth Outcomes and Health in the First Year of Life. Pediatrics 2010, 216:e311-319.
15-Van Baar AL, Vermaas J, Knots E, de Kleine MJKm Soons P. Functioning at School Age of Moderately Preterm Children Born at 32 to 36 Weeks' Gestational Age. Pediatrics 2009;124;251-257
16-Hack M, Breslau N, Weissman B e cols.  Effect of very low birth weight and subnormal head size on cognitive abilities at school age. New England Journal of Medicine 1991; 325: 231-237.
17-Victora CG, Morris SS, Barros FC e cols. Short term benefits of cath-up growth for small-for-gestacional age infants. International Journal of Epidemiology 2001; 30:1325-1330.
18- Silveira RC, coord. Manual seguimento ambulatorial do prematuro de risco 1. ed. Porto Alegre : Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento Científico de Neonatologia, 2012.
19- Mills RJ, Davies MW. Enteral iron supplementation in preterm and low birth weight infants. Cochrane Database Syst Rev 2012 Mar 14, 3.
20-Agostoni C, Buonocore G,  Carnielli VP, De Curtis M, Darmaun D, Decsi T et al. Enteral Nutrient Supply for Preterm Infants: Commentary From the European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition Committee on Nutrition. JPGN 2010;50: 85–91.
21-Lemyre B, Sample M, Lacaze-Masmonteil M and  Canadian Paediatric Society , Fetus and Newborn Committee. Minimizing blood loss and the need for transfusions in very premature infants. Paediatr Child Health 2015;20:451-56.
22-Baker R, Greer FR and The Committee on Nutrition. Diagnosis and Prevention of Iron Deficiency and Iron-Deficiency Anemia in Infants and Young Children (0-3 years of age). Pediatrics 2010; 126: 5: 1-10.




Nenhum comentário: